segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Para início de conversa




Os monstros já eram figuras presentes no imaginário popular e nas diversas manifestações artísticas, inclusive na literatura, desde, pelo menos, a Antiguidade Clássica. Na Odisséia, por exemplo, Homero narra o mito de Ulisses que teve de enfrentar sereias e o gigante Polifemo no regresso a Ítaca. Ainda mais numeroso é o acervo deles nas narrativas orais míticas: harpias, gigantes, esfinge, minotauro e quimeras.
Desde, então, os monstros vem se proliferando na literatura, destacadamente nos séculos XVIII e XIX, quando desponta na Europa a ficção gótica. Ao contrário da tradição literária voltada para a lógica da luz do dia, da racionalidade, a ficção do horror inclina-se para as sombras da noite, para mal, para o que está oculto. As manifestações malignas ecoam em “histórias de horror e terror, transcorridas em castelos arruinados, [...] habitados por seres estranhos que convivem com fantasmas e entidades sobrenaturais” (MOISÉS, 2004, p. 212).

Desde o Castelo de Otranto (1764) de Horace Walpole, primeira novela gótica, a estética do horror se disseminou pela cultura sob diversas formas, exercendo influência nas várias literaturas nacionais. Essa ficção privilegia o desocultamento dos traços mais instintivos e bárbaros da condição humana, em uma espécie de jogo onírico que rejeita a ordem do mundo civilizado para propor o caos.



A literatura [gótica] inclina-se para a loucura, a morbidez, a feiúra, o satânico. Literatura do mal – poderíamos chamá-la assim, ou mais tecnicamente, literatura fantástica. Ela ignora o sobrenatural certificado (Deus, os santos, os anjos, as boas fadas), preferindo o mal, aquilo que deveria estar oculto. Esta complacência do fantástico em relação aos valores negativos produz medo, reprovação, nojo. (AIDAR; MARCIEL, 1986, p. 28 – grifo dos autores)



Com o advento do cinema, os monstros atingiram ainda maior penetração social, ampliando significativamente o seu público. Do musical da Broadway O fantasma da ópera, passando pelo romance O exorcista de William Peter Blatty, ao clipe Triller de Michael Jackson, “o horror tornou-se um artigo básico em meio às formas artísticas contemporâneas, populares ou não” (CARROLL, 1999, p. 13).


Entrelinhas: Bem, é isso aí, não tem mais jeito. A partir de hoje, vamos conversar um pouco sobre os monstros nas diversas manifestações culturais, literatura, cinema, música, folclore, teatro, o diabo-de-quatro... É uma conversa bem informal, mesmo. Aceito todo tipo de contribuição: zumbis, vampiros, fantasmas, bruxas, lobisomen, múmias, criaturas de RPG.



Lentamente, eles chegam e sem que percebamos nos questiona sobre o que somos. Vem nos perguntar por que o criamos.



Referências:




AIDAR, José Luiz; MACIEL, Márcia. O que é vampiro. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Tradução de Roberto Leal Ferreira. Campinas: Paipirus, 1999.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 212-213.


Crédito da imagem: Monstrorum Historia

3 comentários:

  1. Amael, parabéns. Curti teu blog. Abraço e obrigada pelo convite. Neska

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  2. OLÁ, AMAEL. VI SEU BLOG, APENAS, HOJE, NOVEMBRO DE 2010.
    As resenhas são interessantes, ima vez que não encontramos os livros com facilidade nas bibliotecas. Estou precisando do livro "Da natureza dos monstros", de Luiz Nazário e está esgotado. Não encontro nem em Sebos.
    Estou estudando muito sobre Monstros e monstruosidades. Estou escrevendo o meu Projeto de Pós-doutoramento nesta área. Sou mestre em Letras pela UFMG e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.Sou professora de literaturas de expressão portuguesa, da Unimontes.
    Abraço.
    Profa. Generosa Souto.

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    1. Oh, obrigado pela atenção. Estou fazendo mestrado em Letras aqui na UFS nessa área. São apenas anotações, coisas que na época não cabiam no projeto.

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