terça-feira, 20 de outubro de 2009

As Sete Teses


Hoje vou tentar comentar as tese teses de Cohen. Esse texto é importante, porque foi um dos fundadores da pesquisa em monstros no mundo. Depois dele, a visão que rotineiramente se tinha dessas criaturas como artifícios de terror passou a mudar. Os monstros mostram, como revela a origem etimológica da palavra: monstrum (aquele que adverte, revela, mostra). As teses do pesquisador nos aponta direções para a análise e interpretação dos monstros.

Ao afirmar que o corpo do monstro é um corpo cultural, Cohen argumenta que, ao mesmo tempo, que não podemos compreendê-los dentro das categorias do masculino e feminino, mesmos nos antropormórficos, e que o corpo é a representação de uma outra condição: reflete a cultura de quem o engendrou. Nos monstros medievais, os ancéfalos (seres que possuiam a cabeça no ventre) representam o medo, até em então, pelo desconhecido das terras além-mar. O Godzilla, monstro que criado pelo cinema japonês, pode ser lido como a objetivação do medo de contaminação radiotiva, proveniente de marcas traumáticas pós-segunda guerra mundial, quando Hiroshima e Nagasaki foram destruídas pela bomba atômica.

Como não pode ser categorizado dentro dos limites estéticos e biológicos da humanidade, o monstro sempre escapa. Ele é imortal, sobrevive as mais terríveis batalhas. O Drácula é um exemplo disso. Tanto no plano ficcional, como no plano cultural, ele sempre retorna. Uma pesquisa rápida na locadora próxima de sua casa vai demonstrar a quantidade de filmes sobre o assunto. Isso aponta para uma consideração importante: necessitamos dos monstros (em todas as culturas eles sempre existiram para impor limites e para serem amados).

Cohen ainda destaca na terceira tese de que o monstro é o arauto da crise de categoria. Ele surge em momentos de crise, quando os nossos ideais estão se desfazendo diante das mudanças de pensamento. E, por ser o revelador, ele torna claro a crise de categorias, entre o eu e o outro, o masculino e o feminino (lembre-se do que já falamos sobre o(a)s hermafroditas), raças, nacionalidades e culturas.Ele é híbrido (supera a lógica do ou um ou outro para se situar na froteira entre o um e o outro), ambíguo.

Em resumo:
1 - Os corpos dos monstros revelam alguma informação sobre a cultura do povo que o criou.
2 - Necessitamos de monstros, por isso eles sempre estão presentes. Nunca morrem.
3 - Os monstros são híbridos, um e outro ao mesmo tempo.

Entrelinhas: Por hoje é só, amanhã a gente continua falando mais um pouco sobre as sete teses. Estou tentando ser o mais didático possível. Até mais. Abraços monstruosos.


Para saber mais:

COHEN, Jeffrey Jerome. A cultura dos monstros: sete teses. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Pedagogia dos monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

Imagem: Godzilla: a objetivação do medo atômico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário