sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Os gays como monstros




Continuando a nossa discussão sobre as sete teses de Cohen, tentarei relacionar aspectos de sua teoria com os movimentos marginais, fronteiriços entre os gêneros (gays, lésbicas, transgêneros, transsexuais, travesti, bissexuais, pansexuais, pangêneros), mesmo porque, se está lembrado da nossa conversa anterior, o monstro é o arauto da crise de categorias.

Embora hoje muito teóricos das chamadas teorias 'pós', pós-colonialista, pós-modernista, pós-estruturalistas, definam a identidade de gênero como perfomance, a identidade sexual não foi tão facilmente defendida ao longo da história. Lembra-se do que já falamos sobre os hermafroditas? Pois, então, de acordo com Cohen, o monstro mora nos portões da diferença, isto é, ele é fronteiriço: entre o masculino e o feminino, no caso em questão.

De fato, o movimento LGBT e a própria tradição do grupo tem lidado com o preconceito de maneira lúdica: ao invés de se mostrarem iguais no diferentes, preferem se apresentarem diferentes nos diferentes. Dizendo de outro modo, os gays não desejam ser semelhantes aos 'héteros'. Na verdade, a arena da luta pela liberdade de manifestação sexual (já que se trata de uma perfomance) está a luta pela aceitação de que são diferentes e, em sentido mais geral, de que todos nós somos diferentes.


O drag queen Léo, 34 anos, de Goiânia: a monstrificação como uma forma de resistência.



O escritor João Gilberto Noll em seu recente Acenos e Afagos  parece tocar no assunto de maneira complexa ao ficcionalizar, de uma forma muito peculiar, a mutação ou estágio de entrelugar entre o masculino e o femino. Na obra, o narrador-personagem se coloca na angustiante condição de não-homem, não-mulher, um processo permanente de mutação entre o isso e/ou o aquilo, tudo ao mesmo tempo. O próprio título do romance remete a essa condição de fronteira: Acenos (o distante) e afagos (o próximo), o precurso do narrador é sempre impresso pelo trânsito entre essas duas formas de expressão de afetividade.

"Sou o homem usual, aquele que não atira à queima-roupa nem é capaz de aliviar a carga de ninguém. Um homem que não deixa marcas. Sou o anônimo, alguém que pode desaparecer de pronto sem deixar lembranças." (Acenos e Afagos)

Nas manifestações culturais, que aqui incluo as passeatas LGBT, os drag queens são um exemplo desse processo de monstrificação. Pelo o excesso de cores (símbolo do movimento), pelas performances extravagantes, os drag queens se monstrificam e questionam a 'heteronormatividade' sobre o que é a verdade, a moralidade e a justiça. Eles se impõem para serem aceitos pelo que são, sem se exporem ao modelo, notadamente difundido pelo cristianismo, da heterossexualidade. Eles são um dos monstros modernos que lutam pelos seus espaços em uma sociedade que, a cada dia mais, quer o igual, o semelhante. Como monstros, eles revelam para todos nós que pode haver a coexistência entre os diferentes. 

Entrelinhas: Na próxima semana irei falar sobre os monstros e a literatura e apresentar para todos os aficcionados nessas criaturas o principal centro de estudos no país: o grupo de pesquisa mineira: Crimes, Pecados e Monstruosidades: O Mal na Literatura. Abraços monstruosos para todos.


Para saber mais:

NOLL, João Gilberto. Acenos e afagos. Rio de Janeiro: Record, 2008.
COHEN, Jeffrey Jerome. A cultura dos monstros: sete teses. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Pedagogia dos monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 

Um comentário:

  1. http://www.tchaka.com.br/

    Isso mesmo galera do bem, nossa deusa vermelha, poderosa e única, vai mostrar quem manda na casa rsrs...Dimmy minha linda confio no seu potêncial, acredito em seu talento e principalmente em sua garra e determinação.

    Tchaka Drag Queen tem uma passagem muito especial de vida junto com Dicesar ou melhor Dimmy Kieer, certa vez divulgando a Nostro Mondo (casa gay mais antiga do Brasil localizada em São Paulo) , Dimmy me viu panfletando e disse :"Tchaka isso mesmo faça como eu quando chego na boate dou boa noite até as baratas, sem destinção se a pessoa é poderosa ou não".
    Aprendi direitinho...muito obrigada por ser referencia e exemplo de Drag Queen no Brasil.
    Sabemos que a grande drag queen americana Rupaul nos influenciou à todas e isso ninguém discute...fizemos a arte de encantar as pessoas de forma diferente e criativa.

    E que na casa mais vigiada do Brasil bbb 10 vc consiga divertir, inovar e ganhar o prêmio de R$1.500.000,00

    Mostra o poder da drag queen Dimmy Kieer, parabéns rede Globo de Televisão pela escolha do elenco do BBB10.

    Bjs açúcarados cheios de torcida.

    TCHAKA DRAG QUEEN.

    Obs:Na foto drag queen Dimmy Kieer e drag queen Tchaka na Parada Gay de são Paulo.

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